domingo, 30 de setembro de 2007

Notação básica para violão

A notação para violão varia em alguns aspectos de editor para editor, de época para época e às vezes também de país para país. Por exemplo, alguns países da Europa fazem uso de seus próprios idiomas em vez do tradicional italiano. Alguns editores alemães usam bewegt no lugar de con moto, ou langsam para lento. Existe, no caso do violão, destas diversas formas de se indicar as mesmas coisas.
Vamos mostrar alguns aspectos básicos da escrita para violão.

Scordatura

Uma ou mais cordas do violão podem ter a sua afinação alterada, ou seja, podem ser apertadas ou afrouxadas para produzir uma altura diferente da normal. A isto chama-se scordatura. Seu uso é originado dos instrumentos de corda (arco) e vem sendo usado desde o séc. XVII para, originalmente, facilitar passagens em tons distantes.
A sua indicação é feita no início da peça, sendo necessário dizer qual a corda (ou cordas) será alterada com a sua respectiva afinação.
Vejamos algumas formas de indicar a scordatura.





A scordatura mais comum é a 6ª corda (E) afinada descendentemente em D (ré).

Clave

O violão é escrito na clave de sol e é um instrumento transpositor.
Instrumentos transpositores são aqueles cujas notas soam em altura diferente daquela indicada na escrita. No caso do violão, a transposição é de uma oitava abaixo. Ao escrevermos para ele, o som resultante será de uma oitava justa abaixo. Devido a isto em muitas edições encontramos, em vez da habitual clave de sol, uma clave de sol com um pequeno 8 (oito) abaixo da clave,indicando que o som resultante será de uma oitava justa abaixo do escrito.
Ambas as claves podem ser usadas, pois a simples indicação de que a peça foi escrita para violão é sufuciente.


Mão direita

No princípio da música para violão a indicação dos dedos da mão direita se fazia da seguinte maneira: um ponto (.) indicava o dedo indicador, dois pontos (..) o médio, três pontos (...) o dedo anular e para o polegar se usava (+) ou “x”.



Era muito usada para alaúde e nas primeiras escritas para o violão. Embora este sistema esteja em desuso é possível encontrar algumas edições que o adotam.

Outra forma de indicação a encontrada em métodos para violão do séc. XIX, como os do violonista Felix Horetzky (1796 - 1870), conforme é mostrado na figura a seguir, extraída do seu “Instructive Exercises for the Guitar op. 15”.



Veja um exemplo da aplicação deste método:



Os símbolos atualmente usados, com os nomes em espanhol, italiano e português, são:
p (pulgar/pollice/polegar),
i (índice/indice/indicador),
m (médio/medio ou mayor/médio),
a (anular/anulare/anular).
Nos três idiomas as letras iniciais coincidem.



O 4º dedo, quando solicitado , é indicado pela letra c (cuatro, ou chiquito em espanhol) , q (derivada do italiano quattro) ou ainda n ( mignolo(it.) ou ñ (meñique (esp.).



Posição

Outros símbolos e termos usados para a mão direita dizem respeito a como e onde ferir as cordas.Basicamente existem 3 locais onde podemos atacar as cordas:
1- próximo à ponte (para sons agudos)
2- sobre a parte superior do braço (para sons suaves) e
3- entre esses dois pontos (para sons normais).

Os termos para tais posicionamentos, em italiano, francês e alemão, são:
1- Próximo à ponte - sul ponticello , au (sur le) chevalet, am Steg.
2- Sobre a parte superior do braço - Sul tasto ou sulla tastiera, sur la touché, am Griffbrett.
3- Entre a ponte e o braço – normale ou norm , sul boca, a la rose(fr).
Os 2 primeiros são comumente sinalisados como ponticello e tastiera.

Pizzicato e Lascia vibrare

Pizzicato (ou pizz) é um termo usado para quando abafamos as cordas , geralmentecom a parte posterior da própria mão direita enquanto se pulsa as cordas. O correspondente em francês é etouffee. Usa-se também o termo espanhol apagado.

Quando se deseja que o som das cordas se prolongue para além do indicado na partitura, deixando-as vibrar o máximo possível (ou até indicação ao contrário), usa-se como indicação l.v., abreviatura da expressão italiana lascia(re) vibrare . Em francês é laisser vibrer e em alemão klingen lassen.

Outra forma de designar a vibração das cordas além do tempo indicado pela nota, é pelo emprego de pequenas ligaduras como demonstra o exemplo a seguir.



Mão esquerda

Existem alguns problemas quando tratamos da notação da mão esquerda.
A única unanimidade parece ser o uso de números arábicos para indicar os dedos
e as cordas a serem utilizadas.Para indicar os dedos da mão esquerda usa-se 1,2,3 e 4 (dedos indicador,médio, anular e mínimo respectivamente)e para indicar as cordas, 1,2,3,4,5 e 6 ,da mais aguda para a mais grave, dentro de um pequeno círculo.


Para as cordas soltas usa-se um zero dentro de um círculo ou apenas um 0 (zero), indicando que nenhum dedo da mão esquerda irá interferir naquela corda. Menos usado, é a indicação das cordas por meio das letras E,A,D,G,B e E (da 6ª para a 1ª corda) dentro de círculos ou, menos comum, de retângulos.



Enquanto o uso dos números arábicos é universal, o mesmo não se pode dizer quanto ao posicionamento deles. Com muita freqüência são colocados junto à cabeça das notas, dentro do pentagrama. Dois argumentos desaconselham este uso. Primeiro ele “congestiona” a partitura, já repleta de outros sinais (incluindo aí os acidentes), dificultando a leitura. Algumas vezes são colocados em um ou outro lado da nota, piorando ainda mais as coisas. E segundo, como muitos músicos não querem se utilizar daqueles dedilhados, estando esses números muito juntos às notas, fica difícil ignorar a presença deles.


Uma localização razoável e prática para a colocação desses números seria fora do pentagrama. Para as notas com a haste para cima, os números acima e para as notas com hastes para baixo, números abaixo.


É lógico que para sermos mais claros e tornar a partitura mais “limpa”, gastamos mais espaço. Mas economia neste caso pode resultar em algumas incoerências.
Números usados em excesso, além de tumultuar a partitura, subestimam a capacidade de dedução do intérprete. Por exemplo, quando usamos a afinação tradicional do violão (E, A, D, G, B, E, de baixo para cima), não existe necessidade de colocar um “0” (zero) para o “E” grave, já que não existe outra corda em que se vá executar esta nota, assim como o F, F#, G e G# subseqüentes, pelo mesmo motivo.
Não é necessário também pôr números para cada nota quando esta mesma nota aparece seguidas vezes no mesmo trecho ou frase musical.

Escreva apenas a quantidade de informação necessária, pois o violonista terá capacidade de deduzir as partes que estão pouco ou nada sinalizadas.