Vamos mostrar alguns aspectos básicos da escrita para violão.
Scordatura
Uma ou mais cordas do violão podem ter a sua afinação alterada, ou seja, podem ser apertadas ou afrouxadas para produzir uma altura diferente da normal. A isto chama-se scordatura. Seu uso é originado dos instrumentos de corda (arco) e vem sendo usado desde o séc. XVII para, originalmente, facilitar passagens em tons distantes.
A sua indicação é feita no início da peça, sendo necessário dizer qual a corda (ou cordas) será alterada com a sua respectiva afinação.
Vejamos algumas formas de indicar a scordatura.
A scordatura mais comum é a 6ª corda (E) afinada descendentemente em D (ré).
Clave
O violão é escrito na clave de sol e é um instrumento transpositor.
Instrumentos transpositores são aqueles cujas notas soam em altura diferente daquela indicada na escrita. No caso do violão, a transposição é de uma oitava abaixo. Ao escrevermos para ele, o som resultante será de uma oitava justa abaixo. Devido a isto em muitas edições encontramos, em vez da habitual clave de sol, uma clave de sol com um pequeno 8 (oito) abaixo da clave,indicando que o som resultante será de uma oitava justa abaixo do escrito.
Ambas as claves podem ser usadas, pois a simples indicação de que a peça foi escrita para violão é sufuciente.
Mão direita
No princípio da música para violão a indicação dos dedos da mão direita se fazia da seguinte maneira: um ponto (.) indicava o dedo indicador, dois pontos (..) o médio, três pontos (...) o dedo anular e para o polegar se usava (+) ou “x”.
Era muito usada para alaúde e nas primeiras escritas para o violão. Embora este sistema esteja em desuso é possível encontrar algumas edições que o adotam.
Outra forma de indicação a encontrada em métodos para violão do séc. XIX, como os do violonista Felix Horetzky (1796 - 1870), conforme é mostrado na figura a seguir, extraída do seu “Instructive Exercises for the Guitar op. 15”.
Veja um exemplo da aplicação deste método:
Os símbolos atualmente usados, com os nomes em espanhol, italiano e português, são:
p (pulgar/pollice/polegar),
i (índice/indice/indicador),
m (médio/medio ou mayor/médio),
a (anular/anulare/anular).
Nos três idiomas as letras iniciais coincidem.
O 4º dedo, quando solicitado , é indicado pela letra c (cuatro, ou chiquito em espanhol) , q (derivada do italiano quattro) ou ainda n ( mignolo(it.) ou ñ (meñique (esp.).
Posição
Outros símbolos e termos usados para a mão direita dizem respeito a como e onde ferir as cordas.Basicamente existem 3 locais onde podemos atacar as cordas:
1- próximo à ponte (para sons agudos)
2- sobre a parte superior do braço (para sons suaves) e
3- entre esses dois pontos (para sons normais).
Os termos para tais posicionamentos, em italiano, francês e alemão, são:
1- Próximo à ponte - sul ponticello , au (sur le) chevalet, am Steg.
2- Sobre a parte superior do braço - Sul tasto ou sulla tastiera, sur la touché, am Griffbrett.
3- Entre a ponte e o braço – normale ou norm , sul boca, a la rose(fr).
Os 2 primeiros são comumente sinalisados como ponticello e tastiera.
Pizzicato e Lascia vibrare
Pizzicato (ou pizz) é um termo usado para quando abafamos as cordas , geralmentecom a parte posterior da própria mão direita enquanto se pulsa as cordas. O correspondente em francês é etouffee. Usa-se também o termo espanhol apagado.
Quando se deseja que o som das cordas se prolongue para além do indicado na partitura, deixando-as vibrar o máximo possível (ou até indicação ao contrário), usa-se como indicação l.v., abreviatura da expressão italiana lascia(re) vibrare . Em francês é laisser vibrer e em alemão klingen lassen.
Outra forma de designar a vibração das cordas além do tempo indicado pela nota, é pelo emprego de pequenas ligaduras como demonstra o exemplo a seguir.
Mão esquerda
Existem alguns problemas quando tratamos da notação da mão esquerda.
A única unanimidade parece ser o uso de números arábicos para indicar os dedos
e as cordas a serem utilizadas.Para indicar os dedos da mão esquerda usa-se 1,2,3 e 4 (dedos indicador,médio, anular e mínimo respectivamente)e para indicar as cordas, 1,2,3,4,5 e 6 ,da mais aguda para a mais grave, dentro de um pequeno círculo.
Para as cordas soltas usa-se um zero dentro de um círculo ou apenas um 0 (zero), indicando que nenhum dedo da mão esquerda irá interferir naquela corda. Menos usado, é a indicação das cordas por meio das letras E,A,D,G,B e E (da 6ª para a 1ª corda) dentro de círculos ou, menos comum, de retângulos.
Enquanto o uso dos números arábicos é universal, o mesmo não se pode dizer quanto ao posicionamento deles. Com muita freqüência são colocados junto à cabeça das notas, dentro do pentagrama. Dois argumentos desaconselham este uso. Primeiro ele “congestiona” a partitura, já repleta de outros sinais (incluindo aí os acidentes), dificultando a leitura. Algumas vezes são colocados em um ou outro lado da nota, piorando ainda mais as coisas. E segundo, como muitos músicos não querem se utilizar daqueles dedilhados, estando esses números muito juntos às notas, fica difícil ignorar a presença deles.
Uma localização razoável e prática para a colocação desses números seria fora do pentagrama. Para as notas com a haste para cima, os números acima e para as notas com hastes para baixo, números abaixo.
É lógico que para sermos mais claros e tornar a partitura mais “limpa”, gastamos mais espaço. Mas economia neste caso pode resultar em algumas incoerências.
Números usados em excesso, além de tumultuar a partitura, subestimam a capacidade de dedução do intérprete. Por exemplo, quando usamos a afinação tradicional do violão (E, A, D, G, B, E, de baixo para cima), não existe necessidade de colocar um “0” (zero) para o “E” grave, já que não existe outra corda em que se vá executar esta nota, assim como o F, F#, G e G# subseqüentes, pelo mesmo motivo.
Não é necessário também pôr números para cada nota quando esta mesma nota aparece seguidas vezes no mesmo trecho ou frase musical.
Escreva apenas a quantidade de informação necessária, pois o violonista terá capacidade de deduzir as partes que estão pouco ou nada sinalizadas.